“O CMTE perguntou-me naquele dia, porque é que eu me estava a afastar dos bombeiros.
Eu disse-lhe que o meu psicológico já não me ajuda, e ele completou dizendo que ninguém se acostuma a ver desgraças!
A mais pura e limpa verdade, porque eu não me acostumei.
Chorei inúmeras vezes por não compreender porque Deus busca os nossos companheiros do mundo de forma tão brutal! Compreendo que a morte é necessária para o crescimento espiritual, mas será que Deus não pode buscar os espíritos enquanto estão a dormir e a sonhar, assim a viajem da morte parecia-lhes mais um capítulo do sonho!
Então não haveriam mais crianças acordadas, sentadas no meio dos destroços, ao lado dos seus pais desfigurados perguntando a um bombeiro já atordoado, se ele, pequeno e inocente, não estava a sonhar imaginando que o bombeiro fosse um anjo!
Talvez realmente o sejam um pouco, há quem afirme que sim, e mesmo os bombeiros se regozijam com frases que dizem: “Enquanto todos fogem do perigo nós vamos de encontro a ele. Enquanto todos gritam, nossas vozes bradam em silêncio!”.
Há também quem diga: “Que Deus nos abençoe e os anjos guiem nossas mãos em nossos procedimentos”
Há sim um tanto de irreal naquelas almas. Como explicar que alguém possa sentir paixão por não poder dormir tranquilamente, alimentar-se em horários incertos, sair sem a certeza de voltar, deixar a sua família com um beijo sem a certeza de que poderá beijá-los novamente! Diga-me se não há algo de angelical nesses actos?
Por vezes já me fez chorar a bravura de homens e mulheres, contando as suas experiências, suas surpresas, vitórias e tragédias, mas ainda assim eu vi, por traz de lágrimas, um brilho nos olhos, uma alegria incontida, não pelo que presenciou, mas pelo seu acto, por poder estar ao lado de alguém que precisava de auxílio! E ainda assim quando lhe agradecem responde que não fez nada além do seu dever!
E onde está escrito que é seu dever ser um bombeiro?
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